Uma série de pequenos acontecimentos que desencadeiam grandes pensamentos e fazem com que a gente se recorde dos momentos com os sentimentos gerados naqueles pequenos minutos.
Algumas semanas, considero meus dias conturbados demais. Sou o tipo de pessoa que aprecia e precisa muito de longas horas de silêncio, paz e tranquilidade. Os barulhos da cidade me incomodam muito e têm a incrível capacidade de me tirar do sério…
Quando essas confusões sonoras se unem a dias difíceis no trabalho, pronto. Pode saber que vou chegar no final do dia parecendo que fui para a guerra…
Semana passada eu vivi alguns dias assim, que foram ainda mais conturbados por outras ansiedades. Era um desses dias agitados ao extremo, eu sabia que muita coisa aconteceria e, para completar, era uma sexta-feira. Eu não queria que nada acontecesse em uma sexta-feira.
Dentre os movimentos que observei, um deles me chamou a atenção e me tirou do sério. Eram 21h, estava eu e minha mãe no supermercado fazendo as compras. Uma das funcionárias do lugar estava ajoelhada perto de uma das prateleiras, logo na minha frente, que estava pegando batata bolinha.
Comecei a notar uma energia meio estranha por ali e quando e dei conta, um senhor estava gritando com a funcionária, a xingava de ignorante e sem educação. Reclamou que ela devia saber responder ele direito e outras ofensas. Eu nem tinha escutado a voz da funcionária, apenas a exatidão e nervosismo do senhor.
Ele caminhou até a gerente e começou a explicar o que aconteceu: Ele perguntou para a menina onde estava a batata bolinha (local em que eu estava) e, aparentemente, ela disse que não sabia. Isso bastou para aquele senhor, que queria ter sido tratado com mais cordialidade rsrs
Como boa fofoqueira que sou, fiquei de ouvido em pé para escutar tudo. Eles foram atrás da funcionária e tentaram resolver ali no momento. Ele afirmando a falta de educação dela e ela se defendendo dizendo que apenas não sabia, afinal, ela não é do departamento de hortifrúti.
E aí aconteceu. Chegou o salvador da pátria.
Um funcionário apareceu na situação, pediu licença e passou a resolver todo o incomodo de uma forma educada até demais. Pegou sacolas para o senhor, ajudou ele a escolher as melhores frutas, o levou até a batata bolinha (que eu imediatamente me afastei), puxou papo, elogiou, fez tudo por ele!! Não me levem a mal, não estou me referindo ao trabalho dele, sei que ele, como tanto de nós, está tentando fazer um bom serviço.
O que me incomodou foi: por que os homens são sempre os salvadores da pátria?
Uma situação completamente desnecessária e sem proporção com uma funcionária que estava ajoelhada no chão, que não podia responder à altura e que foi tida como mal educada por responder “não sei”. Logo depois, chegou um homem, educado ao extremo, oferecendo, servindo, ajudando, fazendo piadas, divertindo o cliente…
Por que homens sempre chegam na hora perfeita para tomarem o melhor papel enquanto a mulher sempre acaba desempenhando um papel de maluca?
Me incomodou tanto ver aquela situação que a menina não fez absolutamente nada e foi xingada até a quinta geração, enquanto um cara chegou da melhor forma possível, exercendo seu grande papel positivo e apaziguador. Sempre rola, né?
Na mesma semana aconteceu outra questão. Uma colega do MBA mandou uma mensagem no grupo dizendo que, no dia da aula, postou um storie de seu computador com o nome da matéria e marcou o professor. Esse respondeu que não havia entendido, foi em um destaque no perfil da aluna e respondeu “p*ta”.
Sim, exatamente isso que vocês leram. Tudo isso no perfil do Instagram do professor renomado. O grupo foi a loucura, todo mundo em choque, sem entender. A colega chegou a respondê-lo questionando, mas não teve resposta.
As primeira reações? “Com certeza a mulher dele é doida e controla o Instagram dele”, “com certeza foi a mulher dele, que maluca!”, “a esposa dele que deve ter respondido”. A responsabilidade por um comportamento negativo é de todos menos do homem.
Eu fui a primeira que questionou esse tipo de comportamento. É mais fácil culpar uma mulher doida, que nem sabemos se tem acesso ao Instagram do marido, do que deixar a responsabilidade nas mãos do homem por ser quem se é.
O Instagram no nome dele, ele quem deve responder. Mesmo que a mensagem tenha sido enviada pela mulher, pelo filho, pelo papagaio seja quem for… por que é mais fácil colocar a culpa em uma mulher doida?
Além desses acontecimentos, precisei sobreviver a mais duas situações que me fazem sempre refletir esse espaço gigante em que mulheres acabam sendo dominadas pelo patriarcado, machismo e homens que se sentem o centro do universo :)
Ai… às vezes esse mundo me irrita!
E se você voltasse aos 11 anos?
Que fase ein…
Tudo podia ser tão simples, mas era tão complicado!
E se você voltasse aos 11 anos e escrevesse um livro sobre o que você é, sente e acredita?
O meu certamente sairia uma grande confusão de pensamentos, palavras, crenças e muita insegurança!
Esse se tornou um dos meus livros favoritos da vida!! “Se deus me chamar não vou” é de uma escritora brasileira, Mariana Carraca, que é narrado por uma menina de 11 anos que está em sua confusão mental típica da idade.
Uma das narradoras mais cômicas que já li. O livro é divertido e trágico na medida certa!
Daqueles que você não quer que acabe, porque sabe que deixará um vazio enorme.
Me identifiquei muito em várias partes da narrativa e uma delas foi sobre o “sofrimento” que se passa aos 11 anos por ser uma garota grande demais para a idade. As mais altas sabem o que é isso. A narradora conta de uma forma tão casual e ao mesmo tempo sofrida, que nos faz lembrar quando realmente doía ser uma criança que ocupa espaço demais…
Sempre fui grandona. Das minhas amigas, uma das maiores. O pior é que o grandona incomodava muito naquela fase em que tudo que vem de si mesmo passa a ser incômodo, estranho, o corpo faz com que a gente lembre constantemente que ele existe, o ambiente nos faz lembrar o quanto precisamos nos encaixar…
Uma das coisas que mais me deixavam insegura na época era a educação física. Eu amava participar, estava sempre jogando e treinando. O problema eram aquelas reações fisiológicas do corpo que se tornam nojentas e estranhas demais.
A personagem passa pelo mesmo nesse livro. Chega uma certa fase que tudo é feio, estranho, nojento, mesmo as questões mais naturais possíveis!
Minha escola era integral, eu ficava lá de manhã até à tarde. Depois da educação física, obviamente, eu suava muito, estava sempre com muito calor. Sou naturalmente uma pessoa calorenta, mas definitivamente não sabia lidar com o suor, uma reação natural, mas que me despertava muita insegurança.
Me lembro de ficar com blusa de frio no calor de 40º (era tipo isso) o resto do dia após a educação física. E nem precisava fazer muito esforço também… só de estar calor eu ficava com uma pizza embaixo do braço e instantaneamente colocava a blusa de frio para esconder. Quase morria desidratada de tanto calor e suor, mas fingia que estava muito bem.
Chegava em casa e arrancava a blusa encharcada em baixo de mim e deitava no chão, para me refrescar.
Hoje, continuo suando muito, mas sem essa insegurança tão forte. Eu lembro dessa memória e sinto vontade de abraçar a Carol de 11 anos que aprendeu que suar era feio e nojento.
Qual a sua memória de 11 anos que faz você sentir vontade de se abraçar?